Mercado Público de Florianópolis & O Coração do Mundo
Crônica antiga republicada agora.
Mercado Público de Florianópolis & O Coração do Mundo
19h58min de uma noite de inverno agradável em Navegantes e amanhã embarco com destino a Florianópolis para aulas na Oxford Catarinense.
“Num pedacinho de terra, beleza sem par..."¹. E neste pedacinho de terra, em passeios e devaneios acabei passando pelo Mercado Público.
Na minha primeira visita estranhei a falta do “mau cheiro” de peixe e também de frituras, e mais ainda a falta do “bochicho” típico da cultura açoriana. “Ah ãh âh, tax tolo?!"
No decorrer do tempo o odor foi sentido, o bochicho foi ouvido, e tudo começou a criar forma.
As transformações de uso que sofre a arquitetura, como meio ambiente construído através dos processos de requalificação urbana, e a consequente —* preservação É. deste patrimônio edificado, metamorfoseiam os espaços públicos. Com ela, alteram-se também os complexos laços espaciais e sociais que reuniram populações em seu
entorno ao longo dos anos. Laços, estes, responsáveis nela construção da memória coletiva dos diversos grupos urbanos que compõem uma sociedade. É a sensação de pertencimento a um lugar ou grupo social que acompanha as pessoas, quase como uma sombra, que aqui definimos como memória coletiva. O edifício do Mercado Público, anexo ao Centro Histórico de Florianópolis, faz parte da história pública da cidade, estando presente em seus principais momentos metamórficos. ²
O comércio é o principal agente impulsionador desta cidade insular, que teve, como elemento gerador, um posto avançado de defesa da costa sul do Brasil. A função comercial ganha importância a partir de meados do século XVIIl, sendo inevitável o surgimento de um forte mercado junto ao porto militarizado. Este mercado vai ganhar um edifício que o abrigue somente na metade do século XIX. Pode se afirmar, porém, que a atividade comercial, junto ao edifício, é a locomotora do desenvolvimento econômico da cidade². Um Novo Mundo havia sido descoberto além-mar, mas um novo mundo estava também sendo criado em casa.³
Quem circula pelo Mercado Público de Florianópolis percebe a diferença para qualquer outro centro comercial. É o odor, é o cheiro de fritura, é o “bochicho”, é o falatório, é a música tocando, é o Roberto Carlos in concert, enfim... É.
Além do que é visível aos olhos há também o que passa invisível aos olhos dos que transitam pelo espaço. Que são os guerreiros anônimos. Afinal, o peixe comercializado não vai ao “box” sozinho, não é mesmo?! E são estes somando esforços aos que ali estão que fazem o remo se tornar vela, a bateira se tornar iate, e o catamarã se tornar navio E assim, vivendo do amor, da fé, e da esperança que o dia a dia acontece, afinal cantando Bon Jovi⁴ , “é difícil":
Tommy used to work on the docks
Union's been on strike, he's down on his luck
It's tough, so tough
Gina works the diner all day
Working for her man, she brings home her pay
For love, for love
¹ LETRAS.mus.br. Hino de Florianópolis. Disponível em: https://wWww.letras.mus.br/hinos-de- cidades/394820/. Acesso em: 28 ago. 2024.
² CONCEIÇÃO, M. L. Mercado público: chave para conhecer Florianópolis. VIRUS, São Carlos, n. 16, 2018. [online] Disponível em:. Acesso em: 28 ago. 2024.
³ Frankopan, Peter. O coração do mundo: Uma nova história universal a partir da Rota da Seda, o encontro do Oriente com o Ocidente. São Paulo: Planeta, 2019. Mercado Público de Florianópolis. Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em: https://floripaearendadehbilro.paginas.ufsc.br/mercado-publico-de-florianopolis/. Acesso em: 28 ago. 2024.
⁴ BON JOVI. Letra e tradução de "Livin' on a Prayer". Disponível em: https://www.letras.mus.br/bon-jovi/4932/traducao.html. Acesso em: 28 ago. 2024